Artigo publicado em publico
Há mais de um milhão de anos, numa gruta na Serra de Atapuerca, no Norte de Espanha, vivia um grupo de homens e mulheres primitivos. Tinham muita comida, pois, naqueles tempos, o clima era bastante ameno e húmido na Península Ibérica, e sabiam fabricar ferramentas de pedra muito simples, que lhes permitiam cortar a carne e os ossos dos animais que caçavam. Tinham provavelmente vindo do Médio Oriente através do Cáucaso, na fronteira entre a Europa e a Ásia.
Juan Luis Arsuaga, co-director do projecto de investigação de Atapuerca, deu o nome de Homo antecessor a esta espécie de homem primitivo – e especula que eles foram os antepassados comuns à nossa espécie (Homo sapiens) e aos Neandertais.
Na Europa, terão dado origem aos Neandertais (ramo que “secou” há 28 mil anos), enquanto em África acabariam por desembocar no homem moderno, que mais tarde sairia do seu “berço” africano e conquistaria o mundo. Um belo relato, que embora seja compatível com os diversos restos fósseis que se conhecem, ainda não foi totalmente confirmado.
Mas o que parece confirmar-se é que esses primeiros homens chegaram até à extremidade ocidental da Europa bastante mais cedo do que se pensava. Até aqui, os achados provenientes de Atapuerca, uma zona em escavação há 30 anos, apontavam para uma primeira instalação humana há cerca de 800 mil anos. Mas agora, a descoberta de novos fósseis obrigou a rever a cronologia.
Hominíneos e hominídeos
O artigo publicado amanhã na revista Nature por Eudald Carbonell, Arsuaga e os seus colegas do Centro Nacional de Pesquisa da Evolução Humana de Burgos e do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social de Tarragona, tem um título tão simples quanto contundente: “O primeiro hominíneo de Europa” (os hominíneos são uma sub-família dos hominídeos). Claro que os investigadores não excluem que, no futuro, a data dessa primeira migração possa ainda vir a recuar mais.
Mas, tanto quanto sabem, o maxilar inferior humano descoberto em 2007 na antiga gruta de Sima del Elefante – e que vai ser apresentado publicamente amanhã, por volta do meio-dia, em Burgos – faz deste local particular de Atapuerca “o mais antigo e o mais precisamente datado registo de ocupação humana na Europa”. Sima del Elefante encontra-se a uns escassos duzentos metros da jazida de Gran Dolina, onde, em 1994, foram descobertos os primeiros fósseis de Homo antecessor (os tais com 800 mil anos de idade).
Três tipos de datação
Os investigadores espanhóis não olharam a meios para confirmar a idade do maxilar. Utilizaram técnicas “baseadas no paleomagnetismo, bioestratigrafia e nuclidos cosmogénicos”, escrevem na Nature.
O estudo do paleomagnetismo permite fazer a datação a partir das variações, ao longo do tempo, do campo magnético terrestre, que fica “registado” nos minerais magnéticos contidos nos sedimentos. A bioestratigrafia permite estudar a fauna enterrada nos sedimentos e fossilizada ao mesmo tempo que os restos humanos (os cientistas analisaram os ossos de pequenos roedores contemporâneos dos homens que ali viveram).
Quanto aos nuclidos cosmogénicos, trata-se de determinar as proporções de diversos elementos radioactivos (alumínio e berílio, neste caso), produzidos em partículas de quartzo que na altura se encontravam perto da superfície por interacção com os raios cósmicos vindos do espaço.
Como esses grãos de quartzo foram a seguir soterrados, deixaram de ser bombardeados pelos raios cósmicos – e a degradação radioactiva dos dois elementos referidos deu-se a partir daí com uma precisão literalmente atómica, constituindo um verdadeiro “cronómetro geológico” (expressão dos autores).
Todas as técnicas de datação são convergentes e colocam a idade do maxilar em um milhão e duzentos mil anos (mais ou menos 160 mil).
A morfologia do maxilar, dizem os investigadores em comunicado, “é primitiva e faz lembrar a de fósseis africanos do Pleistoceno inferior [1,8 milhões a 800 mil anos atrás]”. Mas também apresenta “muitas semelhanças com os maxilares encontrados em Dmanisi” (no Cáucaso, que datam de há 1,7 milhões de anos). Ou seja, tudo indica que, naquela altura, uma nova espécie (Homo antecessor) terá surgido no extremo mais ocidental da Europa.
Juan Luis Arsuaga, co-director do projecto de investigação de Atapuerca, deu o nome de Homo antecessor a esta espécie de homem primitivo – e especula que eles foram os antepassados comuns à nossa espécie (Homo sapiens) e aos Neandertais.
Na Europa, terão dado origem aos Neandertais (ramo que “secou” há 28 mil anos), enquanto em África acabariam por desembocar no homem moderno, que mais tarde sairia do seu “berço” africano e conquistaria o mundo. Um belo relato, que embora seja compatível com os diversos restos fósseis que se conhecem, ainda não foi totalmente confirmado.
Mas o que parece confirmar-se é que esses primeiros homens chegaram até à extremidade ocidental da Europa bastante mais cedo do que se pensava. Até aqui, os achados provenientes de Atapuerca, uma zona em escavação há 30 anos, apontavam para uma primeira instalação humana há cerca de 800 mil anos. Mas agora, a descoberta de novos fósseis obrigou a rever a cronologia.
Hominíneos e hominídeos
O artigo publicado amanhã na revista Nature por Eudald Carbonell, Arsuaga e os seus colegas do Centro Nacional de Pesquisa da Evolução Humana de Burgos e do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social de Tarragona, tem um título tão simples quanto contundente: “O primeiro hominíneo de Europa” (os hominíneos são uma sub-família dos hominídeos). Claro que os investigadores não excluem que, no futuro, a data dessa primeira migração possa ainda vir a recuar mais.
Mas, tanto quanto sabem, o maxilar inferior humano descoberto em 2007 na antiga gruta de Sima del Elefante – e que vai ser apresentado publicamente amanhã, por volta do meio-dia, em Burgos – faz deste local particular de Atapuerca “o mais antigo e o mais precisamente datado registo de ocupação humana na Europa”. Sima del Elefante encontra-se a uns escassos duzentos metros da jazida de Gran Dolina, onde, em 1994, foram descobertos os primeiros fósseis de Homo antecessor (os tais com 800 mil anos de idade).
Três tipos de datação
Os investigadores espanhóis não olharam a meios para confirmar a idade do maxilar. Utilizaram técnicas “baseadas no paleomagnetismo, bioestratigrafia e nuclidos cosmogénicos”, escrevem na Nature.
O estudo do paleomagnetismo permite fazer a datação a partir das variações, ao longo do tempo, do campo magnético terrestre, que fica “registado” nos minerais magnéticos contidos nos sedimentos. A bioestratigrafia permite estudar a fauna enterrada nos sedimentos e fossilizada ao mesmo tempo que os restos humanos (os cientistas analisaram os ossos de pequenos roedores contemporâneos dos homens que ali viveram).
Quanto aos nuclidos cosmogénicos, trata-se de determinar as proporções de diversos elementos radioactivos (alumínio e berílio, neste caso), produzidos em partículas de quartzo que na altura se encontravam perto da superfície por interacção com os raios cósmicos vindos do espaço.
Como esses grãos de quartzo foram a seguir soterrados, deixaram de ser bombardeados pelos raios cósmicos – e a degradação radioactiva dos dois elementos referidos deu-se a partir daí com uma precisão literalmente atómica, constituindo um verdadeiro “cronómetro geológico” (expressão dos autores).
Todas as técnicas de datação são convergentes e colocam a idade do maxilar em um milhão e duzentos mil anos (mais ou menos 160 mil).
A morfologia do maxilar, dizem os investigadores em comunicado, “é primitiva e faz lembrar a de fósseis africanos do Pleistoceno inferior [1,8 milhões a 800 mil anos atrás]”. Mas também apresenta “muitas semelhanças com os maxilares encontrados em Dmanisi” (no Cáucaso, que datam de há 1,7 milhões de anos). Ou seja, tudo indica que, naquela altura, uma nova espécie (Homo antecessor) terá surgido no extremo mais ocidental da Europa.
1 comentário:
Parabéns pelo blog, pela divulgação da ciência. Andei de blog de culinária em blog de culinária e tchram encontrei o teu lol.
Vim directamente do boloseimas.
Beijos
Paulo Renato
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