quinta-feira, junho 14, 2007

Todos queremos um carro!

Por Leonor Fernandes
Tráfego em Milão gera elevados níveis de partículas materiais
Tráfego em Milão gera elevados níveis de partículas materiais
The New York Times (NYT) e o International Herald Tribune publicaram na anteontem os resultados do projecto EuroLifeNet liderado pelo investigador português do MIT, Pedro Ferraz de Abreu. A experiência piloto está a decorrer em Portugal e Itália e permitiu obter informação detalhada referente a ciclos de 24 horas sobre a exposição individual à poluição de estudantes do ensino secundário.
Pedro Ferraz de Abreu é responsável pelo EuroLifeNet
Pedro Ferraz de Abreu é responsável pelo EuroLifeNet

Baseando-se nos dados já recolhidos em Milão, Itália, The New York Times afirma que o Norte de Itália, para além de conhecido pela moda, comida e pela Fiat, passou a ter mais um título de fama, mas desta vez pouco abonatório: «Cidades europeias com os piores níveis de poluição».

Segundo este jornal, a Alemanha e a Polónia “grandes poluidores europeus” têm vindo a reduzir as suas emissões desde 1990, ao contrário de Itália - cujos valores aumentaram - e que foi advertida pela Comissão Europeia no sentido de reprogramar o seu plano de redução de emissões, sob pena de enfrentar elevadas multas.

Os resultados do EuroLifeNet são impressionantes. Como exemplo, o NYT cita o caso de um participante de 16 anos cujo apartamento fica próximo de uma via muito movimentada e em que os níveis de poluição na sua sala à noite são 20 vezes superiores ao máximo aconselhado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O EuroLifeNet foi desenvolvido em Itália por intermédio da associação Genitore Antismog (Pais contra a Poluição) e em declarações ao NYT a presidente, Anna Gerometta, afirmou: «Queremos que as pessoas se revoltem e que os políticos prestem atenção. Isto é muito mau para a nossa saúde».

Apesar de os níveis de ozono e benzeno terem diminuído de forma visível naquela região, o mesmo não tem acontecido com as partículas materiais, disse o presidente da região da Lombardia, Roberto Formigoni ao NYT.
O jornal americano salienta também dados da OMS deveras preocupantes que indicam que em Itália alguns tipos de partículas materiais causaram, entre 2002 e 2004, 8220 mortes por ano e mostra o nível médio de partículas ultrafinas nalgumas cidades europeias em 2006: Milão 38, Atenas 25, Varsóvia 34, Turim 41, Viena 24, Lisboa 19 e Paris e Londres 16 no fundo da tabela mas ainda assim bem a cima do mínimo padrão de dez miligramas de partículas, afirma Roberto Bertollinin presidente do Centro Europeu para o Ambiente.

Má forma de vida

Bertollini afirma: “É muito difícil diminuir os níveis de partículas materiais devido à forma como vivemos”. Elas são causadas em grande parte pelo tráfego, particularmente pelo característico “pára-arranca“ das horas de ponta.

Citando dados de um estudo cientifico do ano passado, o NYT afirma que caso os valores de dez miligramas sugeridos pela OMS fossem cumpridos poupar-se-ia a vida a 22 mil pessoas em 26 cidades europeias.
Embora estejam a ser desenvolvidos esforços pela autarquia de Milão para reduzir os veículos poluentes, o NYT diz que em termos de poluição a única cidade comparável é Los Angeles, em que o transporte público é limitado e ineficiente e todos querem ter carro.

Segundo Robert Formigoni, serão necessários mais 20 anos para que a mentalidade dos italianos mude e estes troquem o carro por outros veículos menos poluentes. Emile De Saeger, outra especialista que analisou os dados obtidos no EuroLifeNet, chamou a atenção para o facto de ter de se repensar a localização de ciclovias e de parques infantis, de modo a afastá-los de zonas próximas de vias muito movimentadas, com elevados níveis destas partículas analisadas, refere o NYT.

Para terminar, o jornal nova-iorquino salienta uma questão pertinente de Anna Gerotta: ”Como é que esperam que as pessoas usem os autocarros se eles estão sempre presos no tráfego?

Artigo publicado em: Ciência Hoje

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