quarta-feira, março 28, 2007

Como será o clima no futuro?

Artigo do jornal Público sobre as alterações climáticas globais:

A distribuição das espécies deve alterar-se radicalmente
O aquecimento global vai criar zonas climáticas como nunca se viram na Terra
27.03.2007 - 20h55 Clara Barata

O aquecimento global pode criar zonas climáticas como nunca antes existiram na Terra, diz uma equipa de cientistas norte-americanos que estudou a evolução até 2100 de dois cenários delineados no último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.

Há 300 milhões de anos, o ar tinha 35 por cento de oxigénio, quando hoje tem apenas 21 por cento. Não existiam humanos nem nada que se parecesse, mas a abundância de oxigénio permitiu que o mundo fosse povoado por insectos gigantescos - havia libélulas com uma envergadura de asa de um metro. Que futuras surpresas ecológicas nos pode trazer um planeta radicalmente mudado pelas alterações climáticas, como os cientistas nos dizem com cada vez mais certeza?

O aquecimento global pode criar zonas climáticas como nunca antes existiram na Terra, diz uma equipa de cientistas norte-americanos que estudou a evolução até 2100 de dois cenários delineados no último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC): o que prevê uma menor subida da temperatura média global, de 1,4 graus, e o mais drástico, que prevê um aumento de 5,8 graus.

Os trópicos, onde se concentra a maior diversidade biológica do planeta, serão as áreas mais afectadas. "É nas zonas que já são mais quentes que se vão começar a ver novidades", disse ao PÚBLICO John Williams, da Universidade do Wisconsin, principal autor do trabalho publicado hoje on line na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

É nas florestas húmidas da Amazónia e da Indonésia que devem surgir os ambientes inéditos - que podem vir a ocupar entre quatro e 49 por cento de toda a superfície terrestre. Diferentes padrões de chuva, ou aumento da frequência de incêndios florestais, podem ser os motores do processo. "É o equivalente de navegar por águas nunca dantes cartografadas", diz John Williams.

Por outro lado, nas zonas de montanha, nas latitudes mais altas, devem desaparecer os climas actuais (entre quatro e 48 por cento, consoante o cenário), substituídos pelo avanço dos ecossistemas mais a sul - como já se verifica no oceano Atlântico, em que as espécies de águas mais quentes, como o peixe-aranha, estão a subir para norte. "As espécies destas regiões correm o risco de se extinguirem se os seus habitats desaparecerem", sublinha Williams. Como os ursos polares, que precisam dos gelos do Árctico para sobreviver.

"Os novos climas do século XXI podem promover a formação de novas associações entre espécies e outras surpresas ecológicas, enquanto o desaparecimento de outros climas aumentará o risco de extinção de espécies de distribuição geográfica ou climática estreita", diz a equipa.

Então que fazer em relação a essas "zonas quentes" de biodiversidade? Abandoná-las, por não serem viáveis? Nada disso, diz Williams.

"A nossa análise mostra que é muito mais provável que as zonas climáticas se alterem no cenário de maior aumento da temperatura média. Por isso, diria que apresentamos argumentos fortes para dar prioridade à redução das emissões de dióxido de carbono, antes de investir em soluções de conservação das espécies baseadas na adaptação às alterações climáticas." Até porque a única coisa certa é que haverá surpresas: "Termos de lidar com climas completamente diferentes do que já experimentamos torna difícil fazer planos para o futuro."


Artigo em: Público

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