Circulam na Internete várias referências (incluido imagens de vídeo) à divertida e espectacular "reacção" de libertação de dióxido de carbono de uma garrafa de Coca Cola quando se despeja dentro dela uma embalagem completa de Mentos (pastilhas de chupar, de frutas variadas, com a forma de um elipsóide achatado, tipo tremoço, mas com maior tamanho).
Os jóvens pensam tratar-se de uma reacção química entre os componentes dos Mentos e da Coca Cola e circulam mesmo boatos alarmistas na Internet referindo a morte de crianças devido à formação de um composto-bomba inventado por alguns pândegos, o Ta9V4, após a ingestão destes produtos. Este Ta9V4 resultaria da reacção do Acesulfame K existente na Coca Cola Light com os componentes dos Mentos.
Quando um químico observa o fenómeno, percebe imediatamrente que a "reacção" não é química pois é demasiado rápida, muito mais rápida do que seria a passagem dos componentes dos Mentos para a solução.
Para desmistificar o boato, aconselho os jovens a efectuarem a mesma experiência que os meus netos realizaram:
1-Devagarinho, para não perder muito gás, colocque 50 mL de Coca Cola Light num copo e introduza uma pastilha de Mentos na solução. Notará a abundante libertação de gás, que não é mais violenta do que a que se verifica se agitarmos a Coca Cola ou se lhe introduzirmos alguns grãos de arroz.
Repita a experiência com Coca Cola normal (que não contém Acesulfam K) e com água gaseificada Carvalhelhos e verifique que a libertação de gás é análoga, embora com a água gaseificada as bolhas sejam maiores.
2-Para confirmar que não há qualquer reacção química, coloque 3 pastilhas de Mentos em Coca-Cola normal, agite bem para dissolver o mais possível durante 2-3 minutos e decante a solução para um copo com 50 mL de Coca Cola Light (a que tem acesulfame K). Quase não há libertação de gás. Dado que as reacções químicas são tanto mais rápidas quanto maior for o contacto entre os reagentes, aqui não ocorre nenhuma reacção química pois, como os possíveis reagentes se encontram na mesma fase (líquida), a reacção deveria ser ainda mais rápida.
Que se passa então? Como os alunos sabem, as bebidas gaseificadas, como a Coca-Cola e outros refrigerantes, contém dióxido de carbono dissolvido, em equilíbrio, sob pressão, pronto a escapar-se quando a pressão sobre a superfície livre da solução diminui. É necessário retirar a cápsula da garrafa devagarinho, sem agitação, tombando-a um pouco para que algum gás que se liberta não arrastar o líquido pela boca da garrafa (lembremo-nos dos vencedores das competições Fórmula 1 no pódio ...).
Se introduzirmos na solução um palito ou se a agitarmos com uma colher, a libertação de gás é muito mais abundante pois estes objectos constituem núcleos de libertação das bolhas gasosas da solução sobressaturada de CO2.
Se examinarmos um Mento à lupa verificamos que a sua superfície é particularmente rugosa ... e é nestas irregularidades que se liberta o gás.
Se usarmos um Mento retirado da mistura 2, parcialmente dissolvido, sem a superfície rugosa inicial, quase não há libertação de gás.
Moral da história: não papem tudo que vem na Internet.
Por Carlos Corrêa
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